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            Areais emocionantes


Tive o privilégio de poder viajar por muitos desertos ao redor do mundo. O deserto (do latim "desertum", que significa solidão) é um silêncio absoluto, assustador. É o único lugar no mundo onde você pode ouvir distintamente as batidas do seu próprio coração. "O silêncio do deserto te despe. Com isso, você se torna você mesmo; ou seja, nada. Mas um nada que escuta" (Edmond Jabès). "Falar sobre o deserto, mesmo que seja para primeiro silenciar, amá-lo e homenageá-lo, não a nossa tagarelice, mas o nosso silêncio" (Monod). Para mim, o deserto é a melhor forma de perder-se no espaço e no tempo, para redescobrir as virtudes do silêncio e da contemplação. Lá, descobri lugares ao mesmo tempo ingratos e magníficos, onde civilizações primitivas vivem em total osmose com o meio ambiente, em uma economia total de recursos. Eles não têm nada, mas dão tudo.

O homem não pode dominar o deserto, deve permanecer humilde lá: sentimo-nos muito pequenos. O deserto é um lugar que precisa ser conquistado. O espaço é infinito, sem barreiras, sem piedade. Não podemos estar em busca de performance ou virtuosismo. O tempo parece parar quando você percorre um deserto, é preciso perder tempo quando se está ali. A aspereza da natureza e sua imensidão se apoderam do homem. Paradoxalmente, ali se exerce uma forma de confinamento: o deserto, essas extensões onde a razão se perde porque não sabe para onde fugir. O deserto de areia, o erg, é a pureza original, o mistério do vento que persegue as dunas e lhes dá as linhas mais puras. O erg é o porta-plumas da grama que risca a areia com signos cabalísticos. Uma harmonia uniforme onde apenas fantasmas e vento parecem ter passado. O deserto é a liberdade absoluta, sem limites, sem barreiras, o país do desapego absoluto; a essência da vida. A cada passo nesse oceano de dunas, nos aproximamos do autoconhecimento, aprendemos a explorar o infinito. Paradoxalmente, nossas pegadas já vão ter desaparecido de lá.

sables émouvants

Essa série ilustra o meu fascínio pela beleza formal das marcas na areia, das pegadas, no rio ou na duna. Tudo é frágil, efêmero, assim como a vida. As suntuosas dunas evanescentes do erg se misturam a formas caprichosas, meia-lua, retas, estrelas, cúpulas ou parábolas, que convidam o fotógrafo a um trabalho rigoroso de composição. Em uma escala menor, as marcas e os signos cabalísticos deixados pelo vento, pela gravidade, mas também pelo homem, pelos animais ou pelas plantas, me fascinam. Um material paradoxal que é a areia, ao mesmo tempo fluida e sólida, rodopiante e pesada, estática e dinâmica. As impressões registradas ali, pegadas ou linhas onduladas, assumem uma aparência hieroglífica: lembranças visuais das complexas viagens que ali ocorreram. A areia é o rastro da viagem.

Escolhi o preto e branco para esta série por respeito tanto ao grafismo puro das dunas ou rastros na areia, quanto à profundidade dos negros do deserto. Trabalho com uma câmera digital de foco fixo, grande angular, para mergulhar na paisagem, ou destacar um primeiro plano, sem tripé, para ganhar espontaneidade, assim como com um drone em visão vertical para abordar uma terceira dimensão.

Exposição e livro em preparação.